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Hernan Cattaneo lança seu livro em português no Templo com all night long



Os anos passam e muitas coisas mudam, porém, se existe algo que permanece intacto é a vinda de Hernán Cattaneo ao final de dezembro no Warung Beach Club. Sua data é associada a uma espécie de ‘’abertura das férias’’, onde fãs de todo o país escolhem o litoral norte Catarinense para veraneio. Além de aproveitarem as belas praias, celebram a noite mais aguardada do ano, considerada um verdadeiro clássico da cena sul americana – o all night long do ‘’el maestro’’ no templo da música eletrônica.


Essa não era uma noite comum, estava rodeada de detalhes e acontecimentos que preciso retratar neste review. Então, peço desculpas se me alongar e também se o set em si não for tão detalhado como de costume.

Primeiro, a noite era de comemoração de 20 anos do Argentino no clube. Isso mesmo, Hernán está presente desde o início, com sua primeira vinda em fevereiro de 2003, apenas 3 meses após a abertura. Quantos DJs que estavam no auge naquela época, ainda permanecem tocando regularmente no clube? Basicamente ele, Sasha e Dubfire, porém ambos só estrearam em 2006. Hernán é sem dúvidas o maior patrimônio musical internacional que o templo possui, e as comemorações a isso deveriam ser a altura desta relação tão longa e intensa.


Créditos: Biah Art


Segundo, ele estava lançando seu livro ‘’O sonho de um DJ’’ na versão em português e, claro, não poderia ser em outro local se não o templo. Para minha honra, fui convidado para executar o projeto no Brasil, que consistia desde encontrar uma editora, até um tradutor e edição, a qual abracei com enorme entusiasmo. Um desafio nunca experimentado devido a tamanha confiança depositada em minha pessoa, afinal o livro chegava como um Best Seller na versão em espanhol. Com a parceria do meu grande amigo Gustavo Caon Loef, consegui que os livros ficassem prontos uma semana antes da festa. Organizei com o staff do clube um coquetel pré-show com alguns fãs de longa data para uma sessão de autógrafos e fotos. Apesar do tempo apertado, tudo correu bem. Quero agradecer ao Bruno Loureiro por toda ajuda na organização deste evento. Foi uma felicidade enorme poder proporcionar esse momento para seus fãs, onde muitos a anos aguardavam por uma foto ou um minuto para falar a Hernán quanto o admiravam.


Créditos: Biah Art


Sua história de vida e carreira se confundem e seu livro serve de inspiração para todos. De como um menino comum saiu do bairro de Caballito em Buenos Aires para se tornar um dos maiores DJs de todos os tempos.

Após o último autógrafo, Hernán subiu para dar início ao set. Ele não abre mão da pontualidade e 22h em ponto estava dando play. Os convidados do coquetel foram os primeiros clubbers a colar no front, que seria muito disputado durante toda a noite.


Créditos: Biah Art


A primeira grande emoção vem ainda antes das 23h com ‘’Bahia’’ de Simon Vuarambon, um dos maiores clássicos dentro do catálogo da Sudbeat. Uma semana antes do show, eu havia enviado a ele a playlist ‘’Best Moments’’ no templo desde 2010, e como forma de agradecer ele simplesmente me pediu para escolher algumas músicas para tocar. Bahia era uma delas. Você pode ouvi-la no link abaixo;




Outro destaque do warm-up veio com um lindo vocal na faixa ‘’I’m Tied To You (Ivory Shiffted Reality remix) de Auggië feat Maurice Kaar, marcando essa primeira hora de leve tribal.

Na segunda hora a pista já estava cheia, aliás, essa poderia ter sido uma noite de sold out, não foi por puro detalhe. Hernán é o único artista do ano capaz de fazer a pista estar completa nesse horário, mostrando o poder atrativo de sua música e toda a mística que envolve seu famoso ‘’all night long’’.

Às 23h30 uma linda sequência com ‘’Tears’’ de Tim Green e outra das que eu havia selecionado da playlist com ‘’Lost In A Moment’’ de Matthew Dekay & Lee Burridge (Dixon Rework); até hoje um dos maiores lançamentos da Innervisions. Que momento, sua melodia é inconfundível e fez a pista se emocionar.



‘’Detoner’’ de Ric Niels & Will Dekeizer, próximo da meia noite vem para mudar o tom do set, uma faixa mais rápida e envolvente, estávamos de fato saindo do esquenta para decolar em rota de colisão com o subconsciente.

À meia noite, se inicia o grande momento da festa, algo que com certeza entrou para a história do Warung e da carreira do Argentino. Os sócios do clube chegam no palco com um quadro de sua primeira apresentação. Um foco de luz se abre sobre a clássica bandeira do Brasil atrás do DJ, de repente, se desenrola a bandeira da Argentina por cima, Hernán aponta para ela e os abraça visivelmente emocionado.


Créditos: Biah Art


Uma linda homenagem ao Mestre que sempre jogou no templo como se estivesse no Maracanã em uma final de copa do mundo. Comentei na pista com amigos; ‘’campeão do mundo ainda, agora ninguém segura’’.


A comoção na pista foi enorme e a partir deste momento parece que a energia se transformou. Foi um gol atrás do outro, com uma coleção de explosões eufóricas impressionantes. Tive o privilégio de assistir boa parte do set ao seu lado, e em faixas como ‘’Brothi’’ de Mike Griego, a 01h, era possível ver mãos se levantando até o fundo da pista, elas se confundiam com bandeiras da Argentina, mostrando que mais uma vez, os hermanos compareceram em peso.


Próximo das 02h, um vocal encantador começa a falar por cima de uma batida pesada, era a voz de Elizabeth, integrante do duo Pale Blue na faixa ‘’Dive’’(Fort Romeau’s ‘Tranceadelic’ Mix). Os aplausos em meio às luzes de um azul oceânico completaram uma das cenas mais bonitas da noite. Que faixa!


Próximo das 03h, uma de minhas favoritas em todos esses anos o ouvindo no clube, mais uma das escolhidas em ‘’Best Moments’’ – ‘’The Bar Tender’’ de Seth Schwarz & Be Svendsen (Dark Soul remix). Ela foi tocada por ele em 2015 e até hoje me pego ouvindo no carro.

Na quinta hora entramos no momento mais escuro da noite, onde as luzes se alternam entre azul e vermelho, onde os braços baixam e um ritmo introspectivo toma conta da pista, esse é o período onde Hernán mais cresce e domina. Acelerando o bpm, mixando mais rápido sem perder a elegância, ele transforma o ‘’humor’’ da pista em algo mais pessoal e hipnótico.


Créditos: Biah Art


É meu momento favorito de seus sets. Território Catta! Um clássico não poderia faltar e veio com a lendária ‘’Insomnia’’ de Faithless em um remix ID super intenso!


Perto das 05h começou a surgir no fundo da pista o tão aguardando tom laranja em cima do mar. Hernán escolheu um dos produtores mais apropriados para momentos de catarse coletiva. A faixa ‘’Terca’’ de Petar Dundov deu o tom perfeito para o momento. Ele deixou loops de bateria por baixo para não perder o ritmo da pista que estava ‘’on fire’’.


Em seguida, era hora de ‘’acordar’’ novamente e o tom de obscuridade deu lugar a viagens mais emotivas. A primeira delas vem com Deep Dish em ‘’The Future Of The Future’’. Uma versão mais atual da faixa de 1998 do lendário duo Iraniano formado por Sharam e Dubfire. Que momento!!


‘’Deeper’’ (Zoo Brazil Remix) de Floormagnet mantém o tom viajante e a incrível ‘’Thunderbird’’ de Randall Jones & Ariaano chega para ser talvez o grande momento de explosão da noite. Foi como se o set fosse todo pensado para chegar até essa faixa. Que energia, algo mais próximo de um techno progressivo, não à toa foi lançada pela Bedrock de John Digweed.


Créditos: Biah Art


Em seguida ele joga simplesmente ‘’Infusion’’ de Love & Imitation. Uma de minhas favoritas de todos os tempos, uma faixa atemporal. Ela me marcou demais quando comecei a descobrir o Warung, pois aparece em um vídeo promocional do Life Is a Loop de 2007, onde o Leozinho a coloca neste mesmo palco. É incrível como Hernán consegue combinar perfeitamente uma faixa lançada 2 semanas antes com um clássico de 17 anos atrás.


Depois de tanta euforia, o vocal distinto de HVOB em ‘’Capture Casa’’ (Ezequiel Arias edit) vem para trazer certa calmaria por alguns segundos, doce engano, a virada do break coloca tudo para cima de novo!

O vocal mais lindo da noite em minha visão chega após às 06h, com a luz do sol tomando a cabine, em ‘’Never Alone’’ de Whomadewho (Patrice Bäumel Remix)!


Em todos esses 20 anos de Warung, em dezenas de apresentações, você provavelmente não vai encontrar um set de Hernán que não tenha pelo menos 1 faixa do Depeche Mode. Talvez a banda mais remixada para as pistas de todos os tempos. Sempre surge alguma nova versão, e ‘’Only When I Lose Myself’’ (ID remix) foi para a velha guarda da pista cantar junto.


Próximo do final, Hernán trás um dos grandes clássicos de todos os tempos, ‘’Dark & Long’’ da banda Underworld. Sua melodia é inconfundível e ele a trouxe em uma versão de breakbeat que vai terminando aos poucos, sendo ideal para o fechamento. Só para relembrar, essa música fez parte da trilha sonora do consagrado filme ‘’Trainspotting’’ de 1996, considerado um dos 1000 melhores filmes já feitos.


Créditos: Biah Art


Sob aplausos fervorosos e o tradicional canto de ‘’ole, ole ole, oleee, Hernán, Hernán’’, o mestre finaliza baixando o volume lentamente. Após alguns segundos de tensão, é liberado a última música, e para minha surpresa, ele dá o play em ‘’Love Stimulation’’ de Humate (Tom Middleton remix). Esta música fez parte das minhas escolhas e eu havia lhe dito que foi com ela que ele havia se tornado meu ídolo máximo. E o mais incrível, é que ele a tocou exatamente às 06h30 da manhã, assim como em 2010. Naquela oportunidade, ainda havia mais horas de set, porém foi o grande momento em que olhei ao redor e vi a pista toda de sorriso aberto balançando em uma vibe transcendental.


Nunca esqueci do poder dessa música pelas suas mãos. Até pensei em não mencioná-la, pois às vezes não devemos mexer em momentos eternizados. Porém, ao ver a pista toda envolvida novamente com seu vocal, melodia e baixo marcantes, tive a certeza que foi a escolha certa. As lágrimas vieram e a emoção tomou conta, Hernán vem até mim só para dizer ‘’é para você’’. Daria pra contar nos dedos os artistas que possuem tamanha nobreza e atenção para quem os segue.


Créditos: Biah Art


Após tocar oito horas e meia, ele ainda atendeu os fãs pacientemente com fotos e uma rápida fala. Alguns segundos para quem tocou tantas horas parece muito, mas para quem está recebendo essa atenção do ídolo, são segundos muito valiosos e eternos, ele sabe disso.

É incrível ver gerações diversas na pista curtindo com a mesma intensidade, desde quem estava o vendo pela primeira vez, até quem já o viu ali dezenas de vezes – Hernán tem mais de 20 sets no templo, sempre com pelo menos 8 horas, façam as contas.


Créditos: Biah Art


Escolhi duas frases de Alezandro Pont Lezica que estão na introdução de seu livro para ilustrar o sentimento do público ao final.

‘’temos que celebrar a sorte de ouvir seus sets e seu dom de gerar constantemente novas performances.’’

‘’…acima de tudo ele sabe como emocionar, comover e não passar despercebido.’’

Para quem se pergunta; ‘’por que a sua vinda no templo é chamada de a data do ano pelo público?’’


Créditos: Biah Art


No seu livro é possível encontrar muitas respostas. Aqui vai uma. No início dos anos 90, um jovem DJ de 25 anos louco por house music voava até Nova Yorque só para aprender com o pai deste estilo, Sir Frankie Knuckles, que era residente do lendário Sound Factory bar. Hernán ficava em uma escadinha ao lado da cabine a noite inteira apenas para poder observar como Frankie mixava e controlava a pista. Hoje, é Hernán quem está no comando e tem fãs que buscam entender do que é feito sua mágica, em como consegue ter tamanho domínio do grave, groove e melodias, e da espantosa calma que leva uma noite do início ao fim, exatamente como Knuckles fazia. Hoje é Hernán quem faz o público ir embora apenas após a última música.


créditos: Biah Art


Ainda sobre a noite, com certeza o grande destaque foi o momento da descida da bandeira da Argentina, na hora, me veio à mente outra passagem de seu livro, escrita pela jornalista Constaza Bertolini;

‘’O homem de sorriso largo e olhar calmo, pode hoje olhar no espelho e ver o menino que ficava com o rosto colado no Winco (rádio e toca-discos dos anos 60), se orgulhar de como foi perseverante e paciente, de como aprendeu e superou a si mesmo e dizer – você estava certo.’’


Por momentos assim, tudo valeu a pena. Desde quando confrontou seu pai e as estruturas da sociedade no final dos anos 70 com ‘’O sonho de ser um DJ’’, seguiu seu coração e foi capaz de gerar uma comunidade global de seguidores que se movem de todos os lados para vê-lo algumas horas em puro estado de graça, flutuando em sua cabine, porque enquanto está ali, sua presença é inquestionável. Hoje, sua música fez um clube trocar a bandeira de seu país pela da Argentina, apenas para agradecê-lo por tantos e tantos anos, horas e momentos mágicos realizados com esta pista. Amanhã? Não sabemos, apenas posso repetir as palavras de Alejandro “seus melhores anos de criatividade ainda estão por vir’’.


Tracklist:

  • Florence & Machine – Dog Days Are Over (Vandelor Remix)

  • ’Bahia’’ – Simon Voarombon

  • ‘’I’m Tied To You (Ivory Shiffted Reality remix) – Auggië feat Maurice Kaar

  • ‘’Lost In A Moment’’ – Matthew Dekay & Lee Burridge (Dixon Rework)

  • Luciano Scheffer – Tudo Passa

  • Govinda (ARG) – Plexo Solar

  • ‘’Detoner’’ de Ric Niels & Will Dekeizer

  • Seth Schwarz & Be Svendsen (Dark Soul remix)

  • ‘’Brothi’’ – Mike Griego

  • ’’Lost In You’’ de Dusky feat. Jana (ID remix)

  • Tim Green – Tears

  • Berni Turletti & V4LOR – Inside the Heart

  • RÜFÜS DU SOL – Devotion (Luke Alessi Remix)

  • The Cure – Lovesong (Solee Remix)

  • ‘’Insomnia’’ de Faithless

  • ’Terca’’ de Petar Dundov

  • Deep Dish feat ‘’Everything But The Girl – The Future Of The Future’’

  • WhoMadeWho – Never Alone (Patrice Bäumel Remix)

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